Paulo Hayes

24 de ago de 2022

Corpo do Yoga e Cultura

Atualizado: 25 de jun de 2023

O andamento do Yoga Moderno na sua busca pela Autoridade não pode ser separado da problemática do corpo como locus da cultura.

É no corpo e na sua metalinguagem - onde se incluem símbolos, performance e rituais - que se lê o “desejo-poder”, que se recordam memórias passadas e se aferem pegadas de invisíveis intenções (sankalpa).

Quem vê a plenitude do agregado yoguico corpo/mente (prakriti), vê tudo, mas quem só consegue ver a estética do corpinho na posição limita-se a utilizar o arcaboiço sensorial, indiferente à metamorfose cultural e às micro sociabilidades.

No corpo há montes e vales, há rios e montanhas, há deuses e diabos, e existem todas as crenças e pertenças em cada poro que respira.

O corpo também é, sobretudo, um lugar contracultural onde possivelmente se rejeitam e se deslocam os centros tradicionais do Poder. Já não é só o corpo-instituição que interessa na contemporaneidade, mas é (também) o corpo-indivíduo que se afirma como chave dicotómica do status quo e da próxima revolução.

O corpo na posição contrária ou numa postura difícil é incomum e situa-se a montante da vida ordinária, revela um certo ascetismo e vigor para se lá chegar. E esse esforço tem o seu o mérito e, por conseguinte, o corpo perpetua-se a si mesmo através do desejo-poder com o objetivo de se fixar na memória. Não há aqui narcisismo ou ego, é uma mera operação de sobrevivência do Homo sapiens sapiens.

E quem não quer ser lembrado?

Sem memória, não existe história do corpo nem do indivíduo. A própria imortalidade depende da lembrança. Não existe aquilo em que nunca pensámos.

Assim, o corpo precisa de ocupar o centro, seja pela lembrança do conatus, pela performance ou pelo imaginário social, desafiando paradigmas culturais e todos os “velhos do Restelo” contemporâneos que falam, falam, mas parece não dizerem nada.

O corpo fala e faz!

O corpo recorda e guarda!

O teu corpo é o lugar da tua cultura!

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