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Yoga

Atualizado: 23 de mar.

Este artigo refere a origem do Yoga, algumas considerações sobre a história do Yoga e os tipos mais comuns. No final, incluímos os principais estilos praticados aos dias de hoje e a bibliografia.


Origem do Yoga


A origem do Yoga remonta à antiga Índia. Hoje o Yoga é considerado um sistema filosófico – darśana – e prático que abrange várias dimensões. Inclui éticas e técnicas, físicas e mentais. Embora a datação precisa seja difícil de estabelecer (o mesmo acontece em diversa literatura indiana), os primeiros registros da palavra Yoga podem ser encontrados nos Vedas, os textos sagrados da cultura védica. O mais antigo de todos, o Ṛgveda, foi provavelmente escrito entre 1200 e 1500 a.C.


Os Vedas contêm hinos, mantras, rituais e conhecimentos espirituais transmitidos oralmente por muitas gerações. No entanto, o Yoga como uma prática distinta começou a desenvolver mais claramente com os Upaniṣads, que são textos filosóficos que foram escritos depois do ano 800 a.C.. Os Upaniṣads exploram questões profundas sobre a natureza da realidade, a consciência e a procura espiritual, introduzem ideias centrais do Yoga, como o conceito de Brahman (a realidade última) e o Ātman (a consciência individual).


Sucede que nos Vedas, o Yoga é apenas um conceito e um conjunto de ideias. Ainda não existiam práticas físicas nessa altura. Nós encontramos o Yoga como um corpo mais ou menos sistematizado só com as tradições Śramana – o budismo e o jainismo – a partir do Século V a.C. Quanto ao Yoga físico – o haṭha – ele emergiu apenas a partir do segundo milénio da Era Comum.


É claro que você pode encontrar versões românticas sobre a origem do Yoga, em blogues e nas páginas de internet de pessoas famosas. Só que são baseadas em opiniões e crenças, ou naquilo que os gurus ensinaram (com o devido respeito), e não na correta interpretação dos factos históricos. Qual das versões prefere?


O conhecimento do Yoga foi impulsionado no Ocidente por académicos brilhantes, como por exemplo, Mircea Eliade e Georg Feuerstein. Só que as cronologias defendidas pelos autores foram ultrapassadas. Graças aos avanços da filologia e do sânscrito, do recente Haṭhayoga Project e dos académicos contemporâneos, como por exemplo, James Mallinson, Mark Singleton, Geoffrey Samuel, Stuart Sarbacker, Elisabath De Michelis, entre outros, nós hoje temos cronologias mais corretas e atualizadas. E no final deste artigo, na seção da bibliografia, deixamos informação sobre a literatura mais recente. É o melhor que temos, aos dias de hoje!



História do Yoga e os Antigos Praticantes Yogues
Posturas no Yoga Medieval

História do Yoga: Origens Védicas


Conforme referido, os primeiros vestígios do Yoga podem ser encontrados nos Vedas, os textos sagrados da cultura védica. Os Vedas contêm hinos, mantras, rituais e conhecimentos transmitidos oralmente por muitas gerações. Embora não haja um sistema de Yoga definido nesses textos, como já vimos, eles contêm algumas ideias que são centrais para o posterior desenvolvimento do Yoga. Os Upaniṣads também estabeleceram importantes bases filosóficas para o desenvolvimento posterior do Yoga.


Além disso, as tradições do Budismo e do Jainismo contribuíram muito para o desenvolvimento do Yoga, através de práticas ascéticas e meditativas. Por exemplo, nós encontramos no texto bramânico do Yogasūtra alguns elementos do budismo Yogācāra (prática de Yoga) e das éticas jainitas, como ahiṃsā ou não-violência, que são anteriores ao texto de Patañjali.


A Bhagavad-gītā, o Yogasūtra de Patañjali, mais o comentário de Vyāsa: o Yogabhāshya, foram marcos importantes na história do Yoga. Nessa altura, começou a sistematização e a codificação dos ensinamentos do Yoga. O Yogasūtra foi compilado por volta do ano 400 d.C., e descreve a via do Yoga em oito etapas, conhecida como aṣṭāṅgayoga (que não tem a ver com o Yoga Moderno Postural e dinâmico de Pattabhi Jois).


As etapas do aṣṭāṅgayoga de Patañjali incluem orientações para a conduta ética, práticas físicas, controlo mental, meditação e estados de consciência mais refinados. O Yogasūtra de Patañjali é um texto fundamental para o estudo e para a prática do Yoga. No entanto, é preciso salientar que não existe apenas um sistema de Yoga nesse texto. Por exemplo, o capítulo segundo refere o Kriyā Yoga.


No período medieval, designadamente na viragem do Século X para o XI d.C., o Yoga desenvolveu-se ainda mais com o aparecimento do Haṭhayoga. Este enfatiza a prática física, incluindo as posturas (āsana), os exercícios de respiração (prāṇāyāma), as purificações corporais (ṣaṭkarma), as técnicas de controle de energia (mudrā e bandha), a meditação e outras práticas. O Haṭhayoga tornou-se a base para, com algumas exceções, as formas populares de Yoga que são praticadas hoje em dia.


A expansão global do Yoga ocorreu no século XX e, ainda em curso, começou a ser difundido além das fronteiras indianas. Grandes professores e yogues indianos, como Vivekananda, Yogananda, Krishnamacharya, Iyengar, Sivananda, Jois e outros, viajaram e compartilharam os ensinamentos do Yoga no Ocidente. Isso levou à popularização do Yoga em todo o mundo e ao desenvolvimento de várias abordagens e estilos de prática, influenciados pelas culturas locais.



Há uma divisão tradicional em 4 Yogas, mas isso não significa que todos eles sejam praticados no dia a dia.


O Karma Yoga é um dos tipos do Yoga que é descrito nos textos filosóficos, como na Bhagavad-Gītā. É um caminho de ação desinteressada e de serviço altruísta. Neste contexto, a palavra "karma" significa ação. No Karma Yoga, o foco está na realização das ações com uma atitude desapegada aos resultados e no serviço dedicado aos outros. Os praticantes de Karma Yoga procuram agir sem esperar recompensas pessoais, reconhecimento ou ganhos materiais. Em vez disso, eles vêm as suas ações como uma forma de contribuir para o bem-estar e a harmonia do mundo, e claro, livrarem-se de renascimentos futuros.


A Bhakti Yoga é um dos caminhos do Yoga e também surge na Bhagavad-Gītā. É um caminho devocional que enfatiza a devoção amorosa e a entrega a uma divindade ou ser supremo. A palavra "bhakti" pode significar devoção ou amor fervoroso. Na Bhakti Yoga, o praticante cultiva um relacionamento íntimo e amoroso com um aspeto da divindade, seja um deus, uma deusa ou um aspeto transcendental do divino. Esse relacionamento é construído através da devoção, dos rituais, dos cânticos, da meditação e de orações, e do serviço à divindade pessoal de adoração – o iṣṭa-devatā.


Já o Jñāna Yoga é outra das vias do Yoga e vem descrito nos Upaniṣads, e muitos outros textos. É um caminho de conhecimento e sabedoria, que busca a realização do Eu verdadeiro através da investigação intelectual, da reflexão (tarka) e do discernimento (viveka).


A palavra "jñana" significa conhecimento ou sabedoria, é semelhante à gnose grega. No Jñana Yoga, o praticante busca compreender a natureza da realidade, a verdade última e a natureza do eu mais profundo. Isso é alcançado por meio do estudo dos textos sagrados, como os Upaniṣads, a bhagavad-gītā e o Vedanta/Brahma sūtra, além da contemplação sobre questões filosóficas mais profundas.


O Rāja Yoga é uma das tradicionais vias do Yoga. É descrito nos textos filosóficos medievais indianos, mas essa expressão não ocorre no Yogasūtra de Patañjali. O "Yoga Real" ou Rāja Yoga preconiza o controlo e a disciplina mental através de práticas como a abstração sensorial, a concentração, a meditação e outras.


A palavra rāja significa rei ou governante, e sugere o domínio e o controlo sobre a mente. O Rāja Yoga procura a união do eu individual (jīva) com o eu supremo (Brahman), através do controlo e da quietude da mente. No entanto, é bom lembrar que no Yogasūtra, o Yoga não significa "União". É precisamente o oposto: separação. O que se pretende aqui é que o adepto possa distinguir a Consciência (puruṣa) da Matéria (prakṛti), para nessa altura realizar a natureza do sofrimento.


Yoga na Atualidade: o Contexto


Existem diversos estilos (não tipos) de aulas de yoga e meditação, cada um com suas características específicas. Aqui estão alguns dos mais conhecidos:

  1. Haṭhayoga clássico: É um estilo de Yoga que enfatiza as posturas físicas e a respiração, e geralmente a aula de 60 ou 90 minutos termina com um relaxamento. É um estilo popular e abrangente, adequado para iniciantes, que visa equilibrar o corpo e a mente através do fortalecimento, do alongamento e do relaxamento.

  2. Aṣṭāṅgayoga: Este método foi criado por Jois e segue um conjunto específico de sequências de posturas que são praticadas de forma fluída e dinâmica, onde se sincroniza o movimento com a respiração. É uma prática muito intensa e vigorosa que trabalha a flexibilidade e a resistência. Não é indicado para todos os corpos.

  3. Vinyāsayoga: É um estilo parecido com o aṣṭāṅgayoga, é dinâmico e fluido. Combina movimentos, respiração e sequências posturais de forma contínua. Cada movimento é coordenado com a respiração, criando uma prática fluida e energética.

  4. Iyengaryoga: Enfatiza o alinhamento preciso das posturas e a utilização de acessórios, como blocos e cintos, para ajudar na execução correta das posições. É um estilo detalhado e metódico que se concentra na precisão e na consciência corporal.

  5. Kuṇḍalinīyoga: Embora exista uma prática mais antiga com este nome, ela foi reformulada por Yogi Bhajan. É uma prática que combina posturas físicas, técnicas de respiração, mudrās, mantras e meditação. Os praticantes acreditam que as técnicas ativam a energia Kuṇḍalinī, considerada a energia subtil adormecida em cada indivíduo.

  6. Bikramyoga: Este método segue uma sequência fixa de 26 posturas e duas técnicas de respiração, que são praticadas numa sala aquecida a aproximadamente 40°C. O calor intenso é considerado propício para a flexibilidade muscular. É uma experiência intensa e não recomendada para quem não suporta o calor.

  7. Yinyoga: Ao contrário das anteriores, é uma prática suave e passiva, inspirada na filosofia do "Daoismo" (a via do Tao) e que envolve permanecer em posturas por períodos longo, geralmente entre 3 a 5 minutos. O foco está no relaxamento profundo. As posturas e o grau de execução são fáceis.


Existem muitos outros estilos de Yoga, como o Power Yoga, o Yoga restaurativo, o Jivamukti Yoga, o Anusara Yoga, o Sivananda Yoga, entre muitos outros. Cada estilo tem as suas características e abordagens próprias, permitindo que os praticantes encontrem aquele que melhor se adapte às suas necessidades e preferências. É de salientar que as diferenças entre os estilos posturais têm maioritariamente a ver com as sequências, que podem implicar maior ou menor força e permanência postural, transições mais ou menos rápidas, ritmadas ou coreografadas.


Conclusão


Quando falamos de Yoga é preciso contextualizar e saber a sua origem, com base na evidência. Praticar Yoga é o requisito básico e o Yoga inclui a Meditação. O (auto)estudo e a reflexão são os patamares seguintes. Estas dimensões são cumulativas e não se excluem mutuamente. São aprofundadas através do esforço pessoal e da formação de Yoga.


Como a cultura humana é dinâmica e está em permanente mudança, é óbvio que o Yoga Contemporâneo tem muito pouco a ver com o Yoga Medieval. Mas nem por isso deixa de ser Yoga. As discussões infindáveis entre Ortodoxos e Modernistas sobre a ancestralidade, a autoridade e a autenticidade, são assuntos estéreis. Mais não são do que estratégias de poder e de recrutamento. O Yoga não precisa de Polícias, mas sim de pensamento crítico, de prática e de estudo honesto.


Para compreender o Yoga é necessário conhecer o contexto sociocultural, económico e político, no qual as práticas ocorrem. Um sistema, seja Yoga ou outro, tem dinâmicas internas e externas. As práticas podem ser as mesmas, mas a cultura, os corpos e as linguagens, são diferentes.


Bibliografia


De Michelis, E. (2004). A History of Modern Yoga. Continuum.

Mallinson, J. & Singleton, M. (2017). Roots of Yoga. Penguin Books.

Samuel, G. (2008). The Origins of Yoga and Tantra: Indic Religions to the Thirteenth Century. Cambridge University Press.

Sarbacker, S. (2021). Tracing the Path of Yoga: The History and Philosophy of Indian Mind-Body Discipline. State University of New York.






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