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Os tipos de yoga

Atualizado: 26 de mai. de 2023



Introdução

Quais são os tipos de yoga? O yoga surgiu na Índia antiga e cedo se propagou para outros locais, seguindo a rota da seda e assumindo características distintas no Tibete, na China e no Japão. Na Índia existem diversos tipos de yoga que estão geralmente agrupados de acordo com determinado tipo de práticas e doutrinas. A classificação habitual em caminhos de yoga ou marga contempla o jñāna, o rāja, a bhakti e o karma.


Acrescentamos o haṭha yoga por este ser a base dos estilos modernos de yoga. Contudo, sublinhamos a existência de dezenas de tipos de yoga que não são os mais praticados no Ocidente, como, por exemplo, o nād yoga, o kuṇḍalinī yoga e o laya yoga. Este artigo é interessante para quem frequenta aulas de yoga e para profissionais de yoga e meditação.



postura de yoga do arado de Paulo Hayes

Patañjali yoga

Este sistema de yoga, que se convencionou chamar-se clássico, o que é problemático pois deixa de fora outros yogas da mesma época, é de natureza psicológica e meditativa. A postura base é uma posição sentada, firme e confortável, que serve de suporte para todas as práticas seguintes. As oito técnicas do rāja ou real também são conhecidas como aṣṭāṅga de Patañjali. No entanto, não se deve confundir o aṣṭāṅga no yogasūtra de Patañjali com a prática moderna postural – também designada por aṣṭāṅga. Existem outros sistemas ou tipos de yoga no yogasūtra, mas esse tópico será desenvolvido em outro artigo.

  • Yama, composto por cinco abstenções ou restrições. Ahiṃsa – não-violência. Satya – não mentir; verdade. Brahmacarya – sublimação da energia sexual. Asteya – não roubar. Aparigraha – não aceitar subornos.

  • Niyama, as cinco observâncias éticas. Śauca– pureza. Santoṣa – contentamento. Tapas – austeridade; disciplina. Svādhyāya – auto-estudo. Īśvarapraṇidhana – entrega ao criador.

  • Āsana ou posturas psicofísicas.

  • Prāṇāyāma, a gestão da energia vital através de exercícios de respiração.

  • Pratyāhāra, que se refere à abstração dos sentidos.

  • Dhāraṇā, a concentração.

  • Dhyāna, a meditação.

  • Samādhi, o estado de hiperconsciência ou êxtase.


Haṭha yoga

Existem diferentes escolas de haṭha yoga, mas todas reclamam uma linhagem e autenticidade originais. É preciso não esquecer que a palavra yoga inclui duas dimensões, as ideias e doutrinas e um conjunto de técnicas que servem para concretizar esse caminho. Não podemos considerar o haṭha yoga como um mero conjunto de exercícios físicos. As posturas são apenas o início do percurso e pretende-se progressão na prática. São exigidas várias qualidades aos praticantes, entre as quais se encontram o cumprimento da disciplina, a prática regular e a perseverança.

Por outro lado, "dada a predominância nos textos do yoga como objetivo (…) não estaríamos a lidar com um tipo de yoga chamado haṭha, mas sim com métodos conhecidos coletivamente como haṭha e que levam ao objetivo chamado yoga." (Mallinson & Singleton, 2017, p.6). De acordo com Mircea Elíade, "O haṭha yoga não deve nem pode ser confundido com uma ginástica. A aparição do haṭha-yoga está associada ao nome de um asceta, Gorakhnāth, fundador da ordem dos kānphaṭa-yogis. Ele terá vivido no séculos XII…" (Elíade, 2004, p.193). Assim, as técnicas mais comuns do haṭha yoga são: āsana - posturas kriyā – purificações orgânicas prāṇāyāma – técnicas de respiração mudrā – gestos simbólicos e energéticos bandha – contrações neuromusculares dhyāna – meditação samādhi – êxtase ou vacuidade

Assim, embora a prática do haṭha yoga moderno se baseie essencialmente em posturas, exercícios respiratórios e relaxamento, as suas técnicas ultrapassam estes elementos físicos e incluem preceitos éticos, purificações orgânicas e meditação. Existem milhares de posturas e dezenas de técnicas respiratórias e de meditação. Não é o objetivo deste trabalho descrever detalhadamente quais são e como se praticam as técnicas do sistema haṭha yoga.



postura de yoga aulas de yoga e meditação com Paulo Hayes

Karma yoga

Textos como o Bhagavad-gītā e os Upaniṣad fazem referências ao yoga da ação. A palavra karma deriva da raiz verbal 'kri', que significa ação, consciente ou inconsciente, no mundo. O karma-yoga está associado à ética e às boas ações, e tem por objetivo alcançar a liberdade espiritual. Segundo Feurstein, "O Karma Yoga de Krishna às vezes tem sido erroneamente usado para justificar qualquer ação militar (…) O seguidor do Karma-Yoga, que é conhecido como karma-yogin, age na vida diária para diminuir a falta de lei (adharma) e aumentar a virtude (dharma) ou harmonia" (Feuerstein, 1996, p.20). Este tipo de yoga está ligado à ação humana enquanto conduta ética. Quaisquer ações produzem um resultado ou karma que, de acordo com a tradição indiana, é transportado para a próxima vida e influencia a condição do renascimento. Nesse sentido, cabe ao yogui agir de forma correta, sem esperar uma retribuição ou o resultado da ação. Age-se com a convicção intrínseca de que se está a praticar o bem.


Jñāna yoga

O jñāna yoga pode ser considerado a via do conhecimento. O objetivo deste tipo de yoga é alcançar a realidade última – ātman – , que é idêntica à do absoluto ou Brahman. Este tipo de yoga não inclui posturas nem exercícios respiratórios, e implica algum grau de sofisticação intelectual porque, além da meditação sobre a natureza do Ser e do absoluto, os praticantes dedicam-se ao estudo filosófico dos textos Upaniṣad, do Brahmasūtra, e do Bhagavad-gītā, entre outros textos. As grandes afirmações, ou mahāvākyāni, como, por exemplo, ‘Tu és Isso’ ou Tat Tvam Asi (verso 6.8.7 do Chāndogya upaniṣad), servem de reflexão para longos discursos sobre a essência e natureza do Ser.

Bhakti yoga

A bhakti representa o caminho devocional do yoga hindu. Presente em milhares de textos, entre os quais está o famoso Bhagavad-gītā, o objetivo dos seus praticantes é alcançar a salvação através da união religiosa com o iṣṭa-devatā, ou a divindade pessoal. Como sabemos, existem muitas divindades no panteão hindu. Destas, as mais reverenciadas na Índia contemporânea são os avatares de Viṣṇu, como o deus Kṛṣṇa, o auspicioso deus Śiva, considerado o primeiro mestre de yoga, e os vários aspetos da deusa ou Śakti. A bhakti yoga consiste numa autêntica procura do criador através da prática do amor. A maioria dos hindus são hoje seguidores do caminho devocional ou bhakti. Para Zimmer , "No início da era védica, o trabalho de transcender a mente era realizado pelo caminho da devoção (…) [e da] dedicação sincera, isto é, às personalidades simbólicas dos deuses e aos rituais absorventes da sua adoração perpétua." (Zimmer, 2011, p.355).

Conclusão

Existem muitos tipos de yoga, mas o mais praticado na atualidade é o haṭha yoga, o yoga físico vigoroso. Devemos lembrar que o yoga é uma filosofia ou cultura de vida, que envolve ética e técnica. O yoga é uma prática mindbody, ou talvez corpo-mente, que proporciona bem-estar a autoconhecimento.


Bibliografia

Elíade, M. (2004). Yoga: imortalidade e liberdade. São Paulo: Palas Athena. Feuerstein, G. (1996). The Philosophy of Classical Yoga. Vermont: Inner Traditions. Hayes, P. (2023). O Yoga em Portugal. Lisboa: Edições Colibri. Mallinson, J., & Singleton, M. (2017). Roots of yoga. London: Penguim Classics. Zimmer, H. (2011). Philosophies of India. (J. Campbell, Ed.). Delhi: Motilal Banarsidass.




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